Felicidade a Qualquer Preço: A Felicidade Diabólica

Vivemos um tempo onde a felicidade foi elevada ao posto de bem supremo. Ela se tornou o critério absoluto para todas as decisões: se algo nos faz felizes, seguimos em frente; se não faz, descartamos. Relacionamentos, trabalho, família – tudo se torna temporário, condicionado a essa busca interminável por um estado de satisfação constante. Mas será que entendemos, de fato, o que estamos procurando?

Recentemente, ouvi uma história que ilustra bem esse dilema. Uma mulher decidiu se divorciar porque sentia que o casamento estava limitando sua felicidade. Não havia traição, violência ou falta de respeito. Apenas responsabilidades, rotina, compromissos. E, para ela, tudo isso era um obstáculo. “Não posso abrir mão da minha felicidade”, disse ao marido, antes de partir em busca de algo “melhor”.

Esse tipo de pensamento se tornou comum. O trabalho deixou de ser uma vocação e passou a ser um fardo que se abandona ao menor sinal de desconforto. Filhos, antes um presente, agora são vistos como limitações. O matrimônio, que deveria ser uma aliança de vida, virou um contrato com cláusula de rescisão automática. E a desculpa é sempre a mesma: “preciso ser feliz”.

O problema é que essa felicidade tão desejada raramente chega. O prazer imediato, sim. O alívio momentâneo, também. Mas, depois de um tempo, tudo volta a parecer vazio. Porque o que muitos chamam de felicidade nada mais é do que fuga. Fuga das dificuldades, das responsabilidades, do esforço que qualquer coisa significativa exige.

E, nesse ponto, é preciso dizer uma verdade dura: essa busca desenfreada pela felicidade é diabólica.

Não no sentido de algo sobrenatural ou fantasioso, mas no sentido mais profundo da palavra “diabolos”, do grego, que significa “aquele que separa”. O que estamos vendo hoje é exatamente isso: uma felicidade que separa o homem da sua própria realização.

A felicidade diabólica divide o indivíduo entre o desejo e o dever. Separa pais dos filhos, maridos das esposas, trabalhadores de suas vocações. Empurra a pessoa para um caminho de isolamento, onde tudo que exige sacrifício é considerado um inimigo.

Essa felicidade perversa destrói laços, dissolve compromissos e espalha frustração. Quando o homem aceita essa ideia de que “ser feliz” justifica qualquer abandono, ele se torna um escravo do momento, incapaz de construir algo que dure. Ele corta raízes, joga fora tudo o que exige esforço e, no fim, se vê completamente sozinho.

A verdade é simples, mas impopular: não existe felicidade sem sacrifício. O amor verdadeiro exige entrega. O sucesso profissional demanda esforço. A construção de uma família forte exige paciência. A felicidade real une, fortalece, dá sentido. A felicidade diabólica divide, enfraquece e destrói.

E o mais cruel dessa mentalidade é que, ao final dessa busca incansável, a pessoa se olha no espelho e não se reconhece mais. O que restou depois de tanto se vender a esse tipo de felicidade diabólica? A cama confortável, os jantares sofisticados, as viagens incríveis, os prazeres sem compromisso… Mas e o sentido? E o amor? E a alma?

A pergunta que fica é: a troco de quê?

A troco de quê você abriria mão de um casamento por noites animadas e viagens eventuais? A troco de quê trocaria um emprego estável por uma ilusão de liberdade? A troco de quê abandonaria seus filhos para viver sem amarras?

A felicidade que vale a pena não está na ausência de compromissos, mas no significado que encontramos dentro deles. Está no vínculo que cultivamos, nos laços que fortalecemos, nas renúncias que escolhemos fazer por amor.

E talvez seja hora de pararmos de buscar uma felicidade que nos consome e começarmos a viver uma que realmente nos preencha.